Preconceito
Muscular
Por
Gabriel Ortiz
Durante meus poucos anos de treinamento, resistidos com pesos, não
foram as lesões, não foram as dores nos ombros que
pesaram, não foram os pulsos torcidos que me chatearam mais,
foi sentir e ouvir diariamente o preconceito das pessoas.
Li
esses dias em uma biografia do Arnold (The Education of a Bodybuilder),
uma parte em que falava sobre mulheres; sobre as que não
gostam de “caras fortes”, ou mesmo as que gostam. Ficamos
tão taxados de agressivos, brutos, ignorantes ou até
mesmo de quem tem um desempenho sexual fantástico, mesmo
sendo várias as condições que influenciam nisso,
como paixão, conexão, intimidade, entre outras, inúmeras.
Não
bastando o lado afetivo, o preconceito atinge aspectos sociais,
profissionais, comportamentais, relacionamentais e todos os “ais”
possíveis e imagináveis.
O
que há por trás de um cara com um físico de
porte considerável ?
Por trás dele existe determinação, disciplina,
força de vontade, paixão, superação,
companheirismo, objetivos, todas as qualidades procuradas pelas
pessoas.
Então
pergunto:
Taxar alguém pelo seu volume muscular não seria tão
igual ou pior do que taxar alguém pela estrutura física
(magro, gordo), pela cor, pelo credo ou pela religião?
Rotular
as pessoas é um hábito; por não saber direito
quem somos, temos a necessidade de encaixar tudo em um rótulo.
Poderia falar dos estereótipos, das piadinhas de familiares,
amigos e companheiros de trabalho, ou da má fama, mas eu
quero falar do desmerecimento por alguém que dedica dias,
semanas, meses, anos de sua vida; que se priva de festas, bares,
rodízios, churrascos; alguém que se esforça
pra poder pagar, além da academia (o que é muito caro
em Brasília), alimentação, suplementação,
médicos, ortopedistas, remédios, equipamentos; alguém
que se esforça para conciliar os treinos com a vida pessoal,
com os amigos, a família, a namorada que fala que você
só pensa em treinar; alguém que estuda e se especializa
na área, em um país que paga mal aos seus profissionais
e que tem pouquíssimos especialistas sérios no assunto,
o que, infelizmente, nos torna alvo do desconhecimento gerador de
todos os comentários e as discriminações. Alguém
que, faça chuva ou sol, na hora do almoço, de madrugada,
ou às 6:00 da manhã se levanta para treinar. Alguém
que, para poder bancar tudo isso, tem que trabalhar muito, estudar
e ainda arrumar tempo para se alimentar, treinar e descansar.
Conciliar
tudo para não ter nenhum mérito, ou para que esse
mérito seja destruído por comentários do tipo
“ele toma bomba” de um total leigo, que não se
esforça nem para se levantar do sofá e trocar o canal
da televisão, pois tem um controle remoto na mão,
assistindo ao filme “TRÓIA”, estrelado por Brad
Pitt, e admirando: “Nossa como ele é forte!”.
Para não ter reconhecimento, principalmente em Brasília,
onde há pouco tempo não havia sequer federação
ou incentivo ao “ESPORTE”, sim esporte!
Musculação
é para muitos uma desculpa para fazer amigos ou desfilar
com seu tênis da moda, como nas novelas, e com suas camisetas
DryFit, com “última tecnologia para absorção
de suor”; para mostrar a todos seus aparatos tecnológicos
como relógios, tênis com absorção de
calor, de impacto, impermeável, com 50 molas. Mas, para muitos,
é mais que isso, é treino, sim, treino e não
“malhar” pra ficar “sarado”, é coisa
séria!
Por
favor, respeitem!
Esses
são os anseios de um atleta amador. Podem parecer inatingíveis,
utópicos, não só na musculação,
como em qualquer esporte, mas são os anos de dedicação,
passando por cima de todas as dificuldades, que trazem o merecimento.
Acreditar
em si mesmo é essencial, como diria Arnold: “O sucesso
na musculação pode te ensinar a ter sucesso em qualquer
coisa na vida”.
Ainda
não sou um competidor, sou um atleta amador que tenta defender
o esporte; posso me considerar assim porque vivo esse esporte 24
horas por dia; posso fraquejar certas vezes, mas pra mim não
se trata de um passatempo, envolve paixão, sonhos, talvez
incompreendidos, mas as maiores coisas feitas pelo homem foram construídas
com grandes sentimentos.
Talvez
o sonho acabe hoje, amanhã... Mas saberei que consigo suportar
desafios, e que posso enfrentar qualquer coisa com garra, determinação
e paixão.
Abraços,
Irmão do Ferro Gabriel Ortiz, 22 anos, Brasília-DF
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